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Luto de três dias é ato de respeito e condolência pelo falecimento de Mãe Carmen
Luto de três dias é ato de respeito e condolência pelo falecimento de Mãe Carmen
Decreto do Governo da Bahia simboliza reconhecimento histórico às religiões de matriz africana e reafirma compromisso democrático com o respeito e a liberdade religiosa
Por Luiz Carlos Suíca
29/12/2025 às 05:19

Foto: Divulgação
O decreto de luto oficial de três dias pelo falecimento de Mãe Carmen do Gantois não é apenas um ato administrativo do Governo do Estado da Bahia. Ele carrega um significado simbólico profundo, especialmente em um país marcado por desigualdades históricas e pela perseguição às religiões de matriz africana.
Quando um governo democrático reconhece publicamente a importância de uma liderança espiritual do Candomblé, afirma, de forma concreta, que todas as religiões merecem respeito, proteção e dignidade. Trata-se de um gesto que rompe com séculos de invisibilização, criminalização e preconceito contra o povo de axé, suas casas, seus saberes e suas lideranças.
O luto oficial é, antes de tudo, um reconhecimento do papel social, cultural e político que Mãe Carmen exerceu. As ialorixás e os babalorixás não são apenas líderes religiosos: são guardiãs e guardiões da memória ancestral, da solidariedade comunitária, da resistência negra e da organização social nas periferias e nos territórios populares. Honrar essa trajetória é honrar a própria história da Bahia.
Esse gesto do Estado também reafirma um princípio fundamental da democracia: a laicidade não é negação da fé, mas garantia do respeito a todas as fés. Um governo verdadeiramente democrático não escolhe religião oficial, mas também não se omite diante da intolerância. Pelo contrário, atua para proteger quem historicamente foi silenciado.
É possível, sim, que um governo democrático faça mais. Pode — e deve — transformar gestos simbólicos em políticas públicas permanentes:
- combate efetivo à intolerância religiosa;
- proteção dos terreiros como patrimônios culturais e espaços de resistência;
- educação antirracista e inter-religiosa nas escolas;
- diálogo contínuo com lideranças tradicionais.
O luto oficial por Mãe Carmen do Gantois sinaliza que o Estado da Bahia reconhece que a democracia só é plena quando inclui o povo preto, as religiões de matriz africana e seus territórios sagrados. Não apaga as dores do passado, mas aponta um caminho: o do respeito, da memória e da justiça histórica.
Que esse ato não seja apenas um marco de despedida, mas também um compromisso com a vida, com o axé e com a liberdade religiosa.
Axé.
Luiz Carlos Suíca é formado em Administração e Gestão de Pessoas. Filiado ao PT, foi vereador de Salvador por três mandatos, é ativista racial, social e sindicalista da Limpeza Urbana.
*** O conteúdo publicado neste artigo é de inteira responsabilidade do autor. As opiniões expressas não refletem, necessariamente, a posição editorial do Blog do Vila.

