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De 'chapa dos sonhos' à aliança dos pesadelos: Neto seduz PSD com Senado completo

De 'chapa dos sonhos' à aliança dos pesadelos: Neto seduz PSD com Senado completo

Aliados de Otto admitem mágoa com ambições do PT, rejeitam vice e classificam Rui como "inimigo"; No PSDB, deputado cogita "vale-tudo" em 2026 após federação com Podemos

Por Evilásio Júnior

06/06/2025 às 06:00

Atualizado em 10/06/2025 às 10:50

Foto: Valter Pontes / Prefeitura de Salvador

Na esteira da desastrada divulgação da "chapa dos sonhos" do PT — formada pela tríade de governadores e com o iminente descarte do senador Angelo Coronel —, o ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (União), colocou na mesa uma proposta "irrecusável" para atrair o PSD ao seu grupo.

Informações obtidas pelo Blog do Vila indicam que o principal pré-candidato a governador da oposição ofereceu as duas vagas ao Senado ao partido liderado pelo senador Otto Alencar. A proposta é vista com bons olhos pelos sociais-democratas, conforme relatos de integrantes da legenda ouvidos pela coluna.

Uma das hipóteses cogitadas é que, além de Coronel, o deputado federal Otto Filho também seja candidato ao Senado — um movimento sem precedentes na Bahia e raro no país. Apenas em 2011 o Senado registrou pai e filho na mesma legislatura: o ex-presidente da Casa, Garibaldi Alves Filho, e seu genitor, Garibaldi Alves, ambos do MDB do Rio Grande do Norte, quando o patriarca assumiu como suplente de Rosalba Ciarlini, eleita governadora.

Na composição, a vice caberia ao Republicanos, preferencialmente com o deputado federal Márcio Marinho, que aposta em comandar a federação com o MDB no estado. 

O PP, federado com o União, se contentaria com a cabeça da chapa liderada pelo aliado e receberia "carga" na montagem da chapa proporcional, capitaneada por Cacá Leão para federal e João Leão para estadual, com o objetivo de ampliar a bancada. O reforço também se estenderia ao PL, com João Roma na disputa por uma cadeira na Câmara e Roberta Roma para a Assembleia Legislativa.

Alternativa para o PL

Outra alternativa para evitar que o PL seja alijado da chapa de Neto seria a filiação de Coronel à legenda comandada nacionalmente por Valdemar da Costa Neto.

O ingresso do senador, que mantém bom trânsito na direita, não sofreria objeções no PSD, acomodaria os liberais e atrairia o eleitorado bolsonarista.

Outro cálculo considerado é a filiação de Coronel ao Republicanos e a indicação de Roberta Roma para a vice — a fim de manter o critério das duas últimas campanhas da oposição, que sempre teve uma mulher no posto: Mônica Bahia, em 2018, ao lado de José Ronaldo, e Ana Coelho, em 2022, com o próprio Neto.

Uma reunião está prevista para acontecer entre o ex-prefeito e a cúpula do PSD baiano nas próximas semanas, em Brasília, longe dos holofotes de Salvador, para encaminhar o fechamento do acordo.

Magoado, PSD trata Rui como 'inimigo'

O estopim para a abertura de negociação com o PSD foi a mágoa provocada pela fatídica entrevista do senador Jaques Wagner, com participação do ministro da Casa Civil, Rui Costa, por telefone, e mensagem do governador Jerônimo Rodrigues, para "carimbar" a ambição petista de levar uma chapa "puro-sangue" às urnas em 2026.

Um influente integrante da sigla confidenciou ao blog que se sentiu golpeado. Para ele, como "Rui é inimigo do PSD" e "só pensa nele", caberia a Wagner desfazer o "mal-entendido".

"Wagner é líder e tem outro perfil, diferente de Rui, que aprendeu desde o sindicato que o poder tem que ser tomado. Se ele não conseguiu se esquivar da 'pegadinha' de falar que suas candidaturas estavam 'combinadas', teria que se posicionar publicamente para pregar a unidade do grupo. Eu resolveria rápido: falaria com Lula para me botar no TCU [Tribunal de Contas da União] e abriria mão da vaga para Rui, entendeu? Ele teria como dizer: 'Eu fiz a minha parte. Fui fiel com Otto e fui fiel com Rui'", defendeu.

De acordo com outro social-democrata ouvido pela coluna, o único aceno do PT para equacionar a situação foi oferecer a vice ao PSD e plantar o nome da presidente da AL-BA, Ivana Bastos, para o posto — o que o partido não aceita: "Esqueça. Não é o nome. Pode ser Coronel ou outra pessoa do grupo, mas do Senado a gente não abre mão."

Apenas nesta quinta (5), exatos dez dias após a entrevista, sem citá-la ou se desculpar, Wagner disse à imprensa que "pessoalmente" acha a aliança do PT com o PSD é "indissolúvel".

O fato é que, se a “chapa dos sonhos” do PT causou pesadelos no PSD, o contragolpe ensaiado por ACM Neto pode transformar o jogo e levar o grupo de Otto a protagonizar, junto à oposição, o maior reposicionamento político da Bahia em mais de uma década.

PSDB busca 'oxigenação', diz Câmara

Por ora, fora dos planos de Neto para a composição majoritária, o PSDB baiano vai aproveitar a federação com o Podemos para "oxigenar" o partido, que tem encolhido cada vez mais a cada ano eleitoral. Nesta quinta, em Brasília, a executiva nacional tucana aprovou a federação com 98% dos votos, que ainda falta ser avalizada pela sigla parceira para ser efetivada.

Em entrevista à CBN Salvador, o deputado estadual Paulo Câmara defendeu cautela nas discussões sobre os impactos da possível junção na Bahia e avaliou que o momento exige “fortalecimento interno”. “Qualquer decisão agora é precipitada. Primeiro, temos que pensar no fortalecimento dos deputados estaduais, federais, no aumento da bancada, para depois apresentar uma proposta para a Bahia”, afirmou.

Segundo ele, o PSDB precisa se reinventar para falar com novos públicos. “O partido tem grandes bandeiras, como o Plano Real e Fernando Henrique Cardoso, mas não pode viver só do passado. Perdeu muito entre 2014 e 2022. Agora é o momento favorável para repaginar e pensar para frente”, pontuou.

Paulo Câmara disse também que uma eventual federação deve ser construída a partir de um amplo diálogo com os parlamentares das duas legendas. “A gente pode liderar uma federação, mas o líder só pode ser líder quando ouve a todos. E isso, tenho certeza, é o que fará o deputado Adolfo Viana [líder da bancada do PSDB na Câmara Federal]”, ressaltou.

Tucano está disposto ao 'vale-tudo'

Apesar de admitir a tendência de permanecer na oposição, o parlamentar não descartou tanto o lançamento de uma candidatura própria ao Palácio de Ondina quanto uma aliança com o atual governador Jerônimo Rodrigues (PT), de quem o Podemos é aliado. 

"Nós vamos ser um grupo muito forte, muito forte mesmo. Então a gente vai ter peso. Ao lado de Jerônimo, ao lado de Neto, não estando com um ou outro, o futuro vai dizer. Hoje, o PSDB é oposição ao governo do PT, isso é fato. Nós somos aliados ao prefeito Bruno Reis, de quem sempre fomos parceiros. Mas, e se os deputados do Podemos não ficarem confortáveis? Vão sair da federação, vão enfraquecer a nossa posição? A gente só vale o que a gente é com força. Então, quanto mais deputados nós tivermos, mais força a gente tem pra discutir com qualquer grupo. Mas, se a gente chegar já com a posição definida, a gente expulsa quem quer entrar", avaliou Câmara. 

Atualmente, o Podemos possui seis prefeitos, um deputado federal (Raimundo Costa) e um estadual (Laerte do Vando). Os tucanos contam com nove prefeitos, um federal (Adolfo Viana) e três estaduais (Jordavio Ramos, Paulo Câmara e Tiago Correia) e devem presidir a federação na Bahia

Foco na reeleição

Na mesma entrevista, Paulo Câmara confirmou que será candidato à reeleição em 2026 para mais um mandato na Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA).

No entanto, o deputado disse estar focado no trabalho legislativo e no fortalecimento do partido. “Estou honrando cada voto da população do nosso estado, com os mesmos princípios e valores que sempre defendi, desde a época de vereador. A eleição será difícil, mas acredito que, se Deus me colocou aqui de volta, é porque tem um propósito para mim lá na frente”, afirmou.

O parlamentar está no mandato desde dezembro do ano passado, após a renúncia de Pablo Roberto, que foi eleito vice-prefeito de Feira de Santana no último pleito municipal. Em 2022, Câmara obteve 53.680 votos e ficou na primeira suplência do partido.

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