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Entrevista: 'PSOL será alternativa ao PT e à direita carlista na Bahia', diz Ronaldo Mansur

Entrevista: 'PSOL será alternativa ao PT e à direita carlista na Bahia', diz Ronaldo Mansur

Presidente estadual da legenda e pré-candidato ao governo do Estado critica Jerônimo Rodrigues e Bruno Reis, e afirma que o partido apresentará candidatura própria ao governo e ao Senado em 2026

Por Evilásio Júnior

13/10/2025 às 06:00

Foto: Divulgação

O PSOL da Bahia definiu oficialmente o lançamento de candidaturas próprias ao governo e ao Senado em 2026. O nome escolhido para disputar o Palácio de Ondina é o do presidente estadual da legenda, Ronaldo Mansur, que afirma que o partido vai se apresentar como uma alternativa tanto ao grupo petista quanto ao bloco liderado por ACM Neto e Bruno Reis (União Brasil). Em entrevista exclusiva ao Blog do Vila, Mansur afirma que a decisão foi unânime na direção estadual e reflete o desejo de marcar posição política e programática no Estado.

“Nós sempre lançamos candidatura a governo e a Senado desde 2006. E, embora tenhamos apoiado Jerônimo Rodrigues no segundo turno da última eleição, o PT fez uma opção por alianças amplas que vão de Lídice da Mata a Geddel Vieira Lima. Essa é uma escolha deles. A nossa é manter coerência”, afirmou.

Crítico tanto da gestão de Jerônimo Rodrigues (PT) quanto da administração municipal de Bruno Reis (União Brasil), Mansur diz que o PSOL pretende apresentar propostas que enfrentem o modelo econômico e administrativo atual.

“Ambos os projetos — o carlista e o do PT — endividaram o Estado e não deram respostas aos problemas estruturais. O que se vê é o aumento da dívida pública e a continuidade de práticas políticas ultrapassadas”, declarou.

O pré-candidato apontou a saúde como uma das áreas mais críticas da gestão estadual. “As pessoas esperam meses, às vezes anos, por um procedimento de regulação. Quem não tem um vereador ou deputado para furar fila fica à própria sorte. É desumano. Isso mostra a falência do sistema”, afirmou.

Mansur também direcionou críticas à prefeitura de Salvador: “Bruno Reis faz uma gestão ainda pior que a anterior. É escandaloso pagar qualificações à sua secretária e à vice-prefeita enquanto falta política pública de verdade”, disse.

O dirigente do PSOL condenou ainda a política de militarização da rede estadual de ensino e a postura do governador em relação aos professores. “São quase 200 escolas militarizadas. O governador ainda ofende os professores, chamando a escola pública de autoritária. E por que o grupo político dele não mudou isso em 19 anos? É ausência de competência”, criticou.

Sobre segurança, Mansur disse que o governo não investe em inteligência e terceiriza responsabilidades. “A Bahia é o estado mais violento do país. Trocar comandante e secretário não resolve. O governo faz boa vizinhança com oficiais e abandona os praças, que estão na linha de frente. Falta qualificação, reconhecimento e estratégia”, pontuou.

Ele ainda cobrou integração entre governos estadual e federal: “O crime organizado não está só nas favelas, está nos bairros nobres. É preciso uma política integrada e real, não de marketing.”

Mansur também criticou o projeto da Ponte Salvador-Itaparica, classificada por ele como símbolo de uma política sem planejamento. “Não é levantando uma coluna no meio da Baía de Todos-os-Santos que se resolve a infraestrutura. Não há diálogo com as comunidades afetadas nem clareza sobre os impactos. Criam até secretaria da ponte para distribuir cargos”, ironizou.

Para o presidente estadual do PSOL, o projeto da ponte é exemplo de desperdício e falta de prioridade. “Quanto já se gastou em algo que nem existe? E quando existir, quanto custará a travessia? Essa é a política de maquiagem que o governo insiste em vender”, concluiu.

Além dele, a chapa do partido ao Palácio de Ondina terá ainda com Meire Reis, professora e doutora pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, como vice, e Delliana Ricelli, do interior do estado, como pré-candidata ao Senado. A segunda vaga ao Congresso ficará a cargo da Rede Sustentabilidade, que integra a federação com o PSOL. Os principais nomes da agremiação para a disputa pela Assembleia Legislativa são Hilton Coelho, que tentará a reeleição, e Kléber Rosa, que foi o segundo colocado na última eleição para a Prefeitura de Salvador. Enquanto os vereadores Hamilton Assis e Eliete Paraguassu são as principais apostas para a Câmara dos Deputados.

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Confira a entrevista na íntegra:

Pergunta: Como o partido está se organizando para as eleições 2026?

Resposta: O PSOL na Bahia, desde a sua primeira eleição em 2006, nós sempre lançamos candidaturas a governo e a Senado. 2006, 2010, 2014, 2018, 2022 Assim como agora em 2026, onde estamos lançando pré-candidaturas e futuramente candidaturas a governo e a Senado, nomes esses já aprovados oficialmente na direção estadual por unanimidade, pela primeira vez na história. Obviamente, nós temos divergências pontuais com o projeto ao qual o governo do PT se coloca. Por nós também termos dificuldades em entrarmos em um processo de um possível apoio ao PT, onde o seu arco de alianças vai desde Lídice da Mata, uma figura histórica de esquerda, a Geddel Vieira Lima e outros. É uma opção que o PT faz. Assim como também nós temos a opção de não fazer esse tipo de aliança mais ampla, para poder governar o Estado.

Pergunta: Qual o objetivo da sua candidatura?

Resposta: A nossa candidatura é uma candidatura para apresentar propostas e apresentar os problemas porque ambos os projetos carlistas, que inclui o de [José Carlos] Aleluia também [Novo], que é farinha do mesmo saco do grupo de ACM Neto e Bruno Reis. E o grupo de Jerônimo não deu respostas para o Estado se desenvolver. O que tem feito é endividado cada vez mais o Estado, tomando dezenas de empréstimos, como também tem feito o prefeito Bruno Reis.

Pergunta: Mas o PSOL da Bahia apoiou a eleição de Jerônimo Rodrigues na última eleição... 

Resposta: Nós apoiamos o PT no segundo turno de 2022, quando entregamos uma carta compromisso. E o que se foi feito com essa carta compromisso? Ela nem sequer existe mais. Teve o apoio ali do PSOL coisa e tal, fotos, beijos e abraços, depois cada um foi para o seu lado. Mas fizemos campanha e apoiamos, com todos os problemas, apoiamos o governo do Jerônimo.

Pergunta: Quais são as principais críticas do partido hoje ao governo do Estado?

Resposta: Nós achamos que a saúde continua estagnada e cada vez pior. São pessoas que passam seis, oito meses, um ano, dois anos para ser chamado em processo de regulações. Quem não tem um vereador, um secretário, um deputado para conseguir furar a fila da regulação está fadado à sorte. É muito triste pessoas morrerem por ausência de atendimento médico, seja ele de responsabilidade do governo do Estado, seja ele de responsabilidade dos prefeitos municipais, principalmente na capital, com o prefeitozinho Bruno Reis, que está fazendo uma gestão ainda pior do que o seu primeiro mandato, a ponto de chegar ao escândalo de pagar qualificações para sua secretária [Giovanna Victer, Fazenda] e agora a sua vice [Ana Paula Matos]. E é essa reprodução de política que esse grupo quer fazer no Estado. E é por isso que nós colocamos a nossa candidatura, para nós colocarmos nossas propostas sobre saúde pública, sobre educação. 

Pergunta: E quais são suas propostas para a Educação?

Resposta: Nós não concordamos com a militarização das escolas. São cerca de 200 escolas nessa pegada. Nós não concordamos que o governador do Estado ofenda os professores como ele ofendeu, chamando os professores de autoritários, de escola autoritária, que reprovava, que a escola tinha que ser assim e assado. E por que o grupo político dele não fez nesses últimos 19 anos? Precisa de quantos anos mais? Mais 20 anos? Ou é ausência de competência? 

Pergunta: E em relação à Segurança Pública? Esse é o setor mais criticado do governo...

Resposta: A Bahia continua no ranking como estado com maior índice de violência, onde as cidades mais violentas se localizam na Bahia. Há uma ausência de uma política de segurança. O governo acha que trocar comandante, trocar secretário, vai resolver o problema de segurança, e joga nas costas do policial militar, do policial civil, a responsabilidade de promover a segurança pública, e não é. O governo faz boa vizinhança com os oficiais, enquanto que os praças são jogados a esmo sem uma qualificação necessária para estar tendo contato com a população diretamente. Porque o que nós vemos aí cotidianamente são as pessoas sendo agredidas de forma gratuita. O governo prometeu que iria colocar as minicâmaras nas fardas dos policiais e não cumpriu. Novamente, nessa próxima eleição, vai novamente vir com a mesma proposta ou vai colocar câmara em meia dúzia de pessoas e dizer que já iniciou o processo. Então, o crime organizado não está localizado hoje apenas em Salvador, infelizmente. Hoje ele já se espalhou por toda a Bahia. E o policial militar, o policial civil que está na rua cotidianamente, sabe do que eu estou falando. 

Pergunta: Mas como resolver a situação atual de violência no estado?

Resposta: O governador não investe em inteligência. O governo do Estado não pode fechar as portas para discutir uma segurança que integre todas as forças de segurança do Estado e nacionalmente. O governo federal tem que estar aliado aos governos dos estados para ter uma política de combate ao crime organizado. O crime organizado não se localiza apenas nas favelas. Ele está organizado nos bairros nobres. São lá que se localizam os chefes. São lá que se localizam e saem o que a polícia tenta combater. Onde é que foram encontrados os R$ 51 milhões? Foi em qual favela? Não foi em favela, não. Foi em bairro nobre. Então, não existe uma política de segurança, de combate ao crime. E nós vamos investir na segurança pública, que não é apenas armas, aumento de efetivos e viaturas, mas é na qualificação desses profissionais, no reconhecimento que a principal força é a do praça, é daquele que está lá na rua e não do oficialato, que o governo insiste em fazer política de eternas boas vizinhanças. Recentemente tivemos um policial que foi preso por criticar a ausência de política de segurança pública e escancarar os problemas na segurança pública. Não é perseguindo essas pessoas que vai resolver o problema da segurança pública. 

Pergunta: E em relação às obras que o governo tem anunciado? A gestão diz que agora a Ponte Salvador-Itaparica, enfim, vai sair do papel...

Resposta: Não é levantando uma coluna no meio da Baía de Todos-os-Santos, dizendo que vai construir uma ponte, sem sequer ter concluído o diálogo com as comunidades do outro lado, que vai resolver o problema de infraestrutura na Bahia. Uma infraestrutura sem pensar no todo. 

Pergunta: Um dos argumentos é de vai aumentar a geração de emprego e renda... 

Resposta: O que é que o governo tem feito? O que é que o governo anterior, carlista, também fez? Nós temos um litoral imenso, o maior litoral do país a Bahia tem. E a Secretaria de Pesca, o que é que tem feito? Olha quanta oportunidade a Secretaria de Pesca poderia promover. A Secretaria de Turismo do Estado, o que é que faz, pelo amor dos deuses? Nada. Absolutamente nada. Existem secretarias do Estado que poderiam funcionar muito bem, se não fossem as indicações políticas aonde o secretário senta a bunda no sofá, na cadeira e nada faz ao não ser gerenciar os recursos que muitas vezes não dão resultados políticos para o Estado em nível de gestão. Aí nós temos artistas que fazem críticas à ausência de certas políticas em certas áreas da cultura. Quando é um anônimo, um artista anônimo que faz a crítica, é passado batido, é ignorado. Quando é um Wagner Moura, 'olha, vamos no sapatinho porque o cara é famoso, a gente não pode bater de frente'. Quando é contratado um grande artista para tocar no São João, paga-se antecipadamente. Quando é um artista do povão, um artista pobre, até hoje dezenas e dezenas e dezenas estão correndo aí atrás para receber o dinheiro da festa passada. Isso é muito desumano, muito desonesto o que se faz com o nosso povo. Aí você bota um Léo Santana para fazer propaganda do BRT... qual é a relação de Léo Santana mesmo com o VLT? Léo Santana, o mesmo que fez aquelas colocações durante o período de pandemia, é esse mesmo que está fazendo a propaganda do VLT. Não existiam outras pessoas? Então, gasta-se muito dinheiro, cria-se até secretaria da ponte. O que é isso mesmo? Nada mais é do que dar emprego, dar vagas, colocações no governo aos aliados que ainda não foram contemplados. Quanto se já gastou nessa ponte que nem existe ainda? Quanto é que vai custar a travessia quando essa ponte ficar finalizada? Daqui a 15 anos, 20 anos, 50 anos, 100 anos? Qual é a política do governo para o índice de violência de criminalidade que vai aumentar lá do outro lado da ponte, em Vera Cruz, na ilha de Itaparica? O que será feito na região em nível de infraestrutura, saúde, educação, segurança, geração de emprego e renda? Nada disso é discutido com seriedade.

Pergunta: Em relação às pesquisas de intenção de voto, como você avalia não ter o nome listado e os institutos insistirem com Kléber Rosa, que já anunciou a pré-candidatura a deputado estadual?

Resposta: Então, nas pesquisas de intenções de votos, quando o instituto pergunta em quem você votaria, é natural que a maioria dos eleitores ainda diga o nome do camarada Kléber. Até mesmo porque a maioria das mídias da Bahia não repercutiram o anúncio oficial do PSOL. Agora, nas pesquisas estimuladas, quando você cita o nome dos quatro pré-candidatos aí colocados, o Jerônimo, o Ronaldo Mansur, ACM Neto e a Aleluia, aí a gente tem que estar focado nessas pesquisas. Porque, como o anúncio da pré-candidatura do PSOL ainda não atingiu todos os locais, infelizmente é natural que o eleitor ainda não tenha conhecimento sobre o fato de o Kleber não estar mais na disputar para o governo.

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