Roma estica o mito e mira 'tirar PT' do governo da Bahia
Mesmo com possível chapa Tarcísio-Ciro Nogueira, presidente estadual do PL tenta manter vivo o nome de Bolsonaro e se movimenta com ACM Neto para unir a oposição na disputa pelo Palácio de Ondina
Por Evilásio Júnior
09/05/2025 às 06:00
Atualizado em 12/05/2025 às 12:24

Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Apesar de o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estar inelegível até 2030, após ser condenado por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação, o presidente do partido na Bahia, João Roma, insiste na tese de que o capitão reformado poderá ser candidato em 2026.
Deputados federais ouvidos pelo Blog do Vila apontam que, nos bastidores, a possibilidade de lançamento da chapa entre o atual governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), e o senador Ciro Nogueira (PP-PI) tem animado a centro-direita e até causado "brilho nos olhos" do próprio Bolsonaro.
"Olha, eu converso muito com vários personagens, inclusive o próprio Ciro Nogueira, e ele defende o nome do presidente Bolsonaro para a Presidência da República. O que fica muito claro é que você não vê justificativa plausível para dizer à população que um homem como Bolsonaro, que hoje está em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de votos, não pode ser candidato à Presidência da República por causa de uma reunião com embaixadores no Palácio do Planalto. Então, esse tipo de condenação, esse Judiciário com dois pesos e duas medidas, que transforma o processo em vingança, que atua de forma muito passional, é exemplo da ação do atual ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre Moraes. São coisas que não podemos admitir para o nosso Brasil. Portanto, nós defendemos a elegibilidade e queremos marchar no próximo ano com Jair Messias Bolsonaro como nosso candidato à Presidência da República", afirmou Roma, em entrevista à coluna.
Nos corredores liberais, o que se fala é que o ex-presidente sabe que não reverterá a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a tempo de concorrer e tem estimulado e participado dos diálogos para construção de uma alternativa competitiva.
No entanto, assim como fez o presidente Lula (PT) em 2018, ao "esticar a corda" até praticamente o limite legal para lançar o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a estratégia será vender a narrativa de candidatura pelo máximo de tempo possível, a fim de "manter o eleitorado animado".
Neto quer Tarcísio-Ciro
Enquanto o presidente estadual do PL ainda conta com uma eventual candidatura de Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto, o grupo de ACM Neto (União Brasil) tem dado combustível a uma possível chapa presidencial de Tarcísio e Nogueira.
Na avaliação dos interlocutores do ex-prefeito de Salvador, com o "sofrível" desempenho da gestão Lula 3, a composição de centro-direita nacional seria mais "leve" e não teria o mesmo efeito negativo observado na eleição estadual anterior, quando, segundo eles, o ex-presidente "tirou mais votos do que deu" ao postulante ao Governo da Bahia, em 2022.
Apostam ainda na hipótese de o petista sequer concorrer à reeleição, devido a três fatores: "governo fraco", "idade avançada" e "vaidade de não sofrer uma derrota acachapante".
Outro ponto avaliado é o de que, além da perda do PP, devido à federação com o União Brasil, a aproximação do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, com o projeto – interessado em ser escolhido sucessor em São Paulo, em caso de renúncia do governador – poderia obrigar o partido comandado pelo senador Otto Alencar, que nega o desembarque, a se desalinhar com o PT na Bahia.
O conjunto de fatores, dizem eles, seria a "pá de cal" para o atual governador Jerônimo Rodrigues (PT).
União para 'tirar o PT na Bahia'
Diante do cenário dito "positivo" para a oposição, João Roma se coloca como postulante ao Palácio de Ondina, mas admite abdicar da cabeça de chapa em prol da chamada "união" dos contrários aos petistas no estado.
"Nesse cenário aqui na Bahia, eu sou pré-candidato a governador do Estado, mas estou mantendo conversas com Bruno Reis e ACM Neto, e com quem possa somar, para que nós possamos, de fato, fazer uma frente e tirar o PT do governo do Estado da Bahia. Se para isso a gente precisar reconfigurar quem vai para determinado cargo, esse ou aquele, eu não sou dificuldade para nada disso. O que nos move é justamente deixar muito claro que a Bahia precisa de mudança e nós precisamos unir forças para isso", disse o ex-ministro da Cidadania.
Os netistas desejam ter o PL na chapa, com uma vaga ao Senado, não só pelo tempo de TV, mas por apostarem em uma reedição de polarização no pleito estadual do próximo ano, agora de forma menos desfavorável.
Roma manda recado a insatisfeitos
Até o início do período eleitoral, o desafio do presidente estadual do PL é acomodar os ânimos dos seus próprios correligionários e organizar o partido de modo a não sofrer um novo revés em 2026.
Na eleição municipal do ano passado, os liberais fizeram apenas um prefeito na Bahia, Jânio Natal, reeleito em Porto Seguro, contra 20 na eleição anterior, e 59 vereadores, ante os 276 de 2020.
Devido aos números e alianças feitas em 2022, a gestão de Roma passou a ser questionada por vários integrantes da sigla, que chegaram a iniciar uma rebelião interna para pedir a sua saída. Próximo à família Bolsonaro, o ex-ministro negou a existência do movimento, mas mandou recado aos insatisfeitos.
"Isso nunca esteve em pauta. Eu lidero o PL na Bahia com o respaldo do presidente Bolsonaro e com o presidente Valdemar da Costa Neto. Cada um tem um estilo de fazer política. Eu não vou jamais titubear em relação à minha linha de conduta. Então, o que me cabe agora é fortalecer o nosso partido, levantar as nossas bandeiras e deixar muito claro que pessoas que não estejam sintonizadas com o presidente Bolsonaro devem buscar outra legenda, ao mesmo tempo em que nós estamos trazendo novos nomes para fortalecer nossas fileiras e apresentar uma boa chapa de deputado estadual e de deputado federal, além de nosso caminho majoritário, não só respaldando a eleição do presidente Bolsonaro em nível nacional, como fazendo uma mudança aqui na Bahia para tirar o PT", pontuou.
A meta ano que vem é pelo menos manter as quatro cadeiras na Assembleia Legislativa – em 2022 foram eleitos Diego Castro, Leandro de Jesus, Raimundinho da JR e Vítor Azevedo – e as três na Câmara dos Deputados – Roberta Roma, Capitão Alden e João Carlos Bacelar.
"Será uma eleição muito disputada, certamente, mas hoje o partido tem uma vantagem em relação aos outros. O PL hoje é o maior partido do Brasil. Ele dispõe, portanto, do maior tempo de rádio e TV, além de recursos para essas eleições e, sem dúvida nenhuma, é um partido que tem bandeiras, que tem um símbolo, que é o presidente Bolsonaro, e que poderá ter uma chapa bem competitiva. Na última eleição, um dos deputados menos votados foi eleito pelo PL. Na próxima eleição, provavelmente, nós vamos repetir também esse feito, o que gera muitas oportunidades para novas pessoas que estão chegando agora na política, que querem ter uma contribuição mais efetiva e somar forças", afirmou o presidente liberal.
Roberta Roma vai para reeleição
Outra especulação negada por João Roma foi a de que a deputada federal Roberta Roma, sua esposa, poderia não ser candidata à reeleição para que ele mesmo pudesse tentar retornar à Câmara.
De acordo com o presidente do PL na Bahia, a hipótese está completamente descartada.
"Roberta Roma é candidata à reeleição de deputada federal porque tem feito um excelente trabalho em Brasília. Ela é muito disciplinada, organizada e tem avançado com a sua postura. Recentemente, ela se reuniu com a presidente do PL Mulher, Michelle Bolsonaro, e tem muito trabalho para dar voz a todas as mulheres aqui na Bahia. Roberta foi a deputada mulher mais votada da história da Bahia e tem nos orgulhado cada vez mais com a sua representatividade", elogiou.
Eleita em 2022 com 160.386 votos em 2022, a parlamentar foi a sexta melhor colocada entre os 39 parlamentares eleitos no estado e superou em quase 100% o desempenho do próprio marido, que, em 2018, obteve 84.455 votos.
Esta semana, ela foi anunciada como líder do "Ranking dos Políticos" entre as mulheres baianas na Câmara.