Câmara de Salvador abre processo que pode cassar mandato de Hamilton Assis
Parlamentar foi notificado pelo Conselho de Ética e atribui denúncia a perseguição política; oposição fala em coação e agressões no plenário
Por Evilásio Júnior
05/08/2025 às 06:00
Atualizado em 06/08/2025 às 13:11

Foto: Evilásio Júnior
O presidente do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara de Salvador, vereador Alexandre Aleluia (PL), notificou nesta segunda-feira (4) o vereador Hamilton Assis (PSOL) sobre a abertura de um processo que pode resultar na perda do seu mandato. A denúncia partiu de um cidadão identificado como Pedro Ivo, que acusa o parlamentar de ter incentivado os tumultos durante a sessão do último dia 22 de maio, quando servidores municipais invadiram o plenário em protesto contra o reajuste salarial aprovado pela Casa.
A confusão terminou em empurrões e agressões, principalmente contra vereadores da base governista, como Maurício Trindade (PP), um dos alvos da manifestação. Embora não faça parte formal do processo, Trindade tem sido apontado como principal articulador da denúncia — o que ele nega.
Hamilton terá 15 dias úteis para apresentar defesa formal ao Conselho, que é composto pelos vereadores Alexandre Aleluia (PL), Cláudio Tinoco (União Brasil), Cris Correia (PSDB), Duda Sanches (União Brasil), Marta Rodrigues (PT) e Hélio Ferreira (PCdoB). Os suplentes são Ireuda Silva (Republicanos), Júlio Santos (Republicanos), Marcelle Moraes (União Brasil), Marcelo Guimarães Neto (União Brasil), Silvio Humberto (PSB) e Aladilce Souza (PCdoB).
“Perseguição política”, diz Hamilton
Procurado pelo Blog do Vila, Hamilton Assis classificou a denúncia como uma “tentativa de disciplinamento” do seu mandato. Em um longo desabafo, o vereador reafirmou seu compromisso com os servidores públicos e disse desconhecer o conteúdo completo da representação.
“Recebemos com indignação, mas sem surpresa. Trata-se de perseguição política contra o projeto que represento — de valorização dos servidores, da gestão democrática e antirracista. Soube pela imprensa que foi um cidadão que apresentou a denúncia, alguém estranho à rotina legislativa da Casa”, afirmou o parlamentar.
Hamilton também negou participação direta nos atos do dia 22 de maio. Segundo ele, estava ausente da Câmara por conta da defesa de sua dissertação de mestrado, previamente agendada para aquele dia.
“Marquei com meu orientador porque não era um dia de sessão regular. Estava na universidade, defendi meu mestrado, e só depois soube do ocorrido. Mesmo assim, sou arrolado em um processo que desconheço, com base em discursos que me parecem coordenados por adversários, como o vereador Maurício Trindade. Estou estarrecido”, completou.
Maurício nega perseguição, mas cobra apuração
Em entrevista à reportagem, o vereador Maurício Trindade rechaçou a acusação de perseguição e afirmou que o episódio do dia 22 de maio foi “muito mais grave que os atos de Brasília”, em referência à invasão das sedes dos Três Poderes no 8 de Janeiro.
“A Casa vai apurar. Não é perseguição a ninguém. Houve agressão física, coação, impedimento do funcionamento do Legislativo e até ataques à imprensa. Tudo que não aconteceu em Brasília, aconteceu aqui. É preciso responsabilidade e consequência”, disse.
Mesmo sem integrar o Conselho de Ética, Trindade tem sido uma das vozes mais contundentes na cobrança por punições aos responsáveis pelo tumulto.
“O grupo do PSOL entrou aqui pedindo até o mandato de Sidninho [vereador Sidney Costa]. Então é natural que quem se sentiu atingido também busque os caminhos legais. Agora, é com Aleluia. O Conselho é quem vai apurar se houve participação ou não do vereador Hamilton nos fatos”, concluiu.
Próximos passos
Com a notificação formal, o prazo de defesa começa a contar nesta terça-feira (5). A depender da análise do Conselho, o processo pode ser arquivado ou resultar em sanções disciplinares, incluindo advertência, suspensão ou até cassação do mandato de Hamilton Assis.