As reações ao tarifaço prometido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra produtos brasileiros ganharam novos contornos nesta semana com as declarações da deputada federal Lídice da Mata (PSB). 

Em entrevista à CBN Salvador, a parlamentar acusou o seu colega de Câmara, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), de agir contra os interesses do país diretamente do território americano.

Para ela, a permanência do parlamentar nos EUA, mesmo após o fim de sua licença, ultrapassa o debate entre direita e esquerda. "Parece um sequestrador, um terrorista, um bandido. Vive lá com o único objetivo de conspirar contra o Brasil. Eu votaria pela cassação", avisou.

Lídice também condenou a tentativa de aliados do deputado de legalizar o exercício do mandato fora do país. "Isso não existe em lugar nenhum do mundo. É um absurdo total. Essas pessoas desconhecem as regras do jogo democrático, desconhecem a Constituição e as leis do seu próprio país", disparou.

No entendimento da socialista, no contexto, mesmo uma licença médica não se aplica: "Tratamento de quê? Só se for de psiquiatria, mas ainda assim o que eles estão discutindo é um crime. Arranjar um documento falsificado por algum médico para dizer que ele está fazendo um tratamento nos Estados Unidos? Ora, a população deste nosso país merece o máximo de respeito. Ele não tem um mínimo de respeito à população brasileira estando fora do país, rejeitando os votos que teve no Estado de São Paulo. É um desrespeito completo ao eleitor, à população brasileira e às leis brasileiras. Jogar tudo isso no lixo porque ele deseja o perdão para seu pai é ridículo. Se não fosse dramático, seria ridículo". 

Tarifaço de Trump e chantagem econômica

Questionada sobre o impacto das ambições geopolíticas do presidente dos EUA, Donald Trump, com o aumento tarifário sobre produtos brasileiros, Lídice relacionou a ofensiva econômica à tentativa da extrema direita internacional de desestabilizar o governo Lula.

"Eles não querem só atacar o governo, querem atacar o Brasil. O que é isso de dizer que, se o Brasil for arrasado, ao menos será vingado? Isso é uma mentalidade de guerra", comparou.

A deputada também apontou também que o apoio e incentivo do bolsonarismo ao tarifaço expõe a incoerência do discurso patriótico do ex-presidente: "Eu acho que eles tiraram a máscara diante do povo brasileiro. Mostraram que nunca foi patriotismo, nunca tiveram interesse na pátria. Tem interesses pessoais, interesse de poder. Estão voltados para o poder pelo poder, para impor à população brasileira o seu pensamento".

PSB na Bahia: reeleição e reconstrução de bancadas

Lídice confirmou que pretende disputar a reeleição à Câmara Federal e que o PSB busca consolidar sua posição com novas alianças. Apesar da ausência de uma federação robusta até o momento, ela ressalta que a legenda vem se fortalecendo desde 2022.

"Queremos crescer a bancada e atrair novos aliados. Nossa tarefa agora é construir chapas competitivas", disse.

Até o momento, o único partido a conversar com os socialistas para uma união em 2026 é o Cidadania.

2026: apoio a Lula e expectativa por Rui Costa no Senado

Sobre 2026, a deputada negou articulações do PSB para lançar o prefeito do Recife João Campos à Presidência e afirmou que o apoio à reeleição de Lula está consolidado.

Em relação à vaga ao Senado na chapa do governador Jerônimo Rodrigues, Lídice reconheceu que tanto Rui Costa quanto Jaques Wagner têm legitimidade para disputar, mas ponderou:

"É uma discussão que ainda está na cúpula. Quando descer para os partidos, vamos avaliar. Mas pimenta nos olhos dos outros é refresco, né?", ironizou, sobre o fato de ter sido impedida de disputar a reeleição ao Senado em 2018. 

Na oportunidade, ela foi substituída justamente pelo atual senador Angelo Coronel (PSD), que agora acusa os caciques do PT baiano de escanteá-lo.

Aladilce Souza e os desafios urbanos de Salvador

Vice-presidente municipal do PCdoB e vereadora de Salvador, Aladilce Souza cobrou transparência no processo de revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) da capital baiana, previsto para 2026.

"A FGV foi contratada por R$ 3,6 milhões com dispensa de licitação. Queremos saber com que critérios. Salvador tem instituições qualificadas para isso. Não existe técnica neutra", apontou, em entrevista à CBN Salvador.

Ela afirma que a cidade tem sido "acimentada" e que o debate precisa envolver a sociedade civil desde o início. "A cidade está perdendo áreas verdes e o prefeito só pensa em arrecadar", acusou.

Crise política na Câmara e tentativa de cassação

Sobre o processo interno contra o vereador Hamilton Assis (PSOL), acusado por aliados do prefeito Bruno Reis de incitar a ocupação da Câmara durante protestos de servidores, Aladilce classifica a ação como absurda:

"Ele nem estava lá no momento da ocupação. Espero que essa proposta não prospere. Precisamos discutir os temas estruturais da cidade, não cassar vereador da oposição", declarou.

Segundo a comunista, não há "nenhum documento oficial" sobre o assunto na Casa.

Preta Gil: símbolo de resistência

Aladilce também comentou a proposta de homenagear a cantora Preta Gil com o nome de um logradouro em Salvador.

O projeto, que ainda aguarda definição e consulta pública, busca reconhecer a trajetória da artista na luta contra o racismo, a gordofobia e o câncer.

"A Preta é uma referência de mulher negra e guerreira. Essa homenagem é justa", defendeu.

Em paralelo, a vereadora propôs um projeto sobre a prevenção do câncer colorretal — o mesmo enfrentado por Preta — a fim de alertar para o crescimento de casos em pessoas jovens: "É um problema grave e precisamos que a Câmara trate com seriedade".

PCdoB e Jerônimo em 2026

Aladilce descartou candidatura própria em 2026, mas afirmou que o PCdoB está engajado na reeleição do governador Jerônimo Rodrigues e na construção de uma frente ampla contra o bolsonarismo e o que chamou de "imperialismo econômico".

"Vivemos um momento crítico. Precisamos defender o Brasil dessas investidas do capitalismo e do imperialismo norte-americano. O que está acontecendo é um ataque à nossa soberania", disse.

Em 2024, parte dos comunistas fez campanha para a candidatura de Kléber Rosa (PSOL) a prefeito de Salvador em detrimento ao vice-governador Geraldo Júnior (MDB).

No próximo ano, dificilmente a legenda integrará a chapa majoritária, exceto em posição de suplente ao Senado.