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Conta salgada da eleição de 2026 assusta deputados, fomenta renovação recorde e acelera migrações partidárias

Conta salgada da eleição de 2026 assusta deputados, fomenta renovação recorde e acelera migrações partidárias

Estimativas apontam gastos mínimos de R$ 10 milhões por candidato e até 180 mil votos para conquistar uma vaga na Assembleia; "laranjal" de ex-prefeitos candidatos aumenta desânimo

Por Evilásio Júnior

26/09/2025 às 06:00

Foto: Evilásio Júnior

"Se eu não tiver R$ 7 milhões hoje não sou nem pré-candidato". A frase, ouvida nos corredores da Assembleia Legislativa da Bahia pelo Blog do Vila, resume o tamanho da encrenca que se avizinha para 2026. 

Deputados de diferentes partidos admitem que a próxima disputa será a mais cara da história da Casa, com estimativas de que cada postulante precisará desembolsar pelo menos R$ 10 milhões para sonhar com uma vaga.

Ou, como repete um veterano do plenário: "Todo ano a gente fala isso, mas nunca teve uma eleição mais cara do que essa". 

No último pleito, o valor médio gasto pelos 63 parlamentares eleitos, conforme os dados oficiais do Tribunal Superior Eleitoral, foi de R$ 432 mil por candidato. "Tudo o que é declarado no TSE é uma piada. Uma farsa que não corresponde a 5% do gasto de todo mundo", contestou um parlamentar.

Voto cada vez mais caro

O cálculo dos votos também está inflacionado. Se em 2022 o Solidariedade elegeu Luciano Araújo, com 28.412, e Pancadinha, com 27.338, no próximo ano fala-se em um mínimo de 55 mil, a depender do partido ou federação.

"Com 60 mil é capaz de perder a eleição. O cara tem que ir para a campanha calculando a meta em 80 mil para conseguir 70 mil", afirmou um legislador à coluna.

Sem o voto de legenda, o número dispara para 150 mil e pode chegar a 180 mil se for mantido o veto do presidente Lula (PT) ao projeto que reduz o número de deputados federais, o que cortaria até seis cadeiras na Alba. 

A presidente da Casa, Ivana Bastos (PSD), já prometeu "mobilização" e "articulação" em Brasília para tentar reverter a medida.

Prefeitos "laranjas"

Enquanto parlamentares reclamam da matemática cada vez mais pesada, ex-prefeitos enxergam oportunidade. Muitos deixaram aliados no comando das prefeituras, considerados "laranjas" por deputados, e contam com a máquina pública para turbinar as campanhas. Alguns, mesmo alvos de investigações e operações contra desvio de recursos públicos, dizem ter coragem para se candidatar. "A vergonha na classe [política] é artigo de luxo", ironizou um deputado.

Há relatos de que em algumas regiões é preciso, inclusive, "pedir bênção" ao grupo liderado por ex-gestores para entrar em qualquer cidade. "De 15 a 18 prefeitos continuam com laranjas na prefeitura. Um deles teve 12 secretários presos, mas tem que pedir licença a ele para entrar nos municípios do semiárido", protestou um parlamentar à coluna.

Entre os nomes cotados para a disputa estão Luciano Pinheiro (PDT), de Euclides da Cunha; Genival Deolino (PSDB), de Santo Antônio de Jesus; Júlio Pinheiro (PT), de Amargosa; Dr. Pitágoras (PP), de Candeias; Tarcísio Pedreira (SD), de São Gonçalo dos Campos; o ex-presidente da União dos Municípios da Bahia (UPB) Quinho Tigre (PSD), de Belo Campo; Marcel José Carneiro de Carvalho (PT), de Paratinga; Thiancle Araújo (PSD), de Castro Alves; Juvenilson Passos (PT), de Sento Sé; Thiago Gilleno (PSD), de Ponto Novo; Carlinhos Sobral (MDB), de Coronel João Sá; Zedafó, de Irará, além de figuras próximas de prefeitos em exercício, como Wagner Alves, marido da gestora de Vitória da Conquista, Sheila Lemos (União Brasil), e Andréa Castro, esposa do prefeito de Itabuna, Augusto Castro (PSD).

"Quanto você acha que Sheila vai gastar com o marido e Augusto Castro vai gastar com a mulher?", indagou um parlamentar.

Protetorado

Não bastasse a "invasão" de ex-prefeitos, na contabilidade das dificuldades dos deputados estão ainda os protegidos de figuras de peso da política baiana.

Além de protagonizar a autofagia petista na disputa pela Câmara em Feira de Santana, o governador Jerônimo Rodrigues quer levar à Assembleia a secretária de Educação do Estado Rowenna Brito (PT). Já o ministro da Casa Civil, Rui Costa, conta com a eleição do ex-superintendente de Fomento ao Turismo (Sufotur), Diogo Medrado – ainda sem partido.

O prefeito de Salvador, Bruno Reis (União), por sua vez, aposta suas fichas no seu assessor especial e amigo Igor Dominguez (DC).

Dança partidária

O peso financeiro também está por trás de movimentos de deputados em busca de legendas mais competitivas. O conjunto desalentador tem estimulado mudanças partidárias e inibido alguns de almejar voos mais altos. "Só maluco que sai para federal com essas emendas", confessou um integrante da Casa.

A lista de especulados em mudanças inclui nomes do PP como Niltinho, Eduardo Salles, Hassan e Antônio Henrique Júnior – que mantêm conversas com PSB e Avante –, além do histórico tucano Paulo Câmara, que pode sair do PSDB caso não tenha garantia de vitória.

Nos bastidores, outros são apontados com dificuldade para encontrar abrigo, a exemplo de Euclides Fernandes e Júnior Muniz, sem espaço no PT, enquanto os "verdes" Ludmilla Fiscina, Marquinho Viana, Vítor Bonfim e Roberto Carlos – que ainda não conseguiu viabilizar a candidatura para federal e deve seguir para a reeleição – serão realocados em outro casulo.

Os únicos já com destino certo são Marcinho Oliveira, que assumiu a presidência do PRD, e Raimundinho da JR, que confirmou ao blog sua ida para o SD. "Anote aí: o presidente Luciano Araújo abraça a chegada de Raimundinho no Solidariedade", brincou.

Com o objetivo de chegar a Brasília, Alan Sanches (União) admite trocar de partido para não ficar para trás, enquanto Olívia Santana (PCdoB) denuncia a desigualdade criada pelo poder econômico. Na mesma toada, os atuais vereadores da capital Ricardo Almeida (DC), Marcelle Moraes e Paulo Magalhães Jr., ambos do União, cogitam deixar suas agremiações para ingressar no PRD, a fim de alcançar o Legislativo estadual.

Renovação inevitável

O consenso entre os parlamentares é de que a próxima eleição deve abrir ainda mais espaço para novos nomes na Alba. 

Nos últimos três pleitos, a média de renovação foi de 43%, com o ápice em 2018, quando atingiu 53,9%. Agora é estimado um número de novatos de até 60% da composição atual, bem acima da média histórica. 

Além de Alan e Olívia, outras três cadeiras ficarão vagas logo na partida da próxima campanha: Leandro de Jesus (PL), que garante manter a campanha para o Congresso; Maria del Carmen (PT) sai de cena para tentar passar o bastão ao filho, o superintendente da Desenbahia André Fidalgo, e Manuel Rocha (União), que busca Brasília para substituir o pai, José Rocha, aspirante a uma difícil vaga no Senado na chapa de ACM Neto

Nelson Leal (PP) tem garantido nos corredores que não irá para a renovação do mandato. 

O fato é que a soma de custos estratosféricos, ex-prefeitos competitivos e rearranjos partidários promete redesenhar o cenário político baiano dos próximos anos.

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