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De 'balão de ensaio' a ameaça do PL: o impacto do clã Bolsonaro nos planos de ACM Neto

De 'balão de ensaio' a ameaça do PL: o impacto do clã Bolsonaro nos planos de ACM Neto

Flávio Bolsonaro embaralha a direita e acende o alerta máximo no núcleo do pré-candidato do União Brasil ao Governo da Bahia

Por Evilásio Júnior

12/12/2025 às 06:00

Foto: Marcos Corrêa / PR

A súbita pré-candidatura de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à Presidência atingiu em cheio o planejamento eleitoral de ACM Neto na Bahia. O movimento do senador reabre o trauma de 2022 — quando a recusa do ex-prefeito de Salvador em se vincular a Jair Bolsonaro o isolou nacionalmente, rendeu uma quase vitória de Jerônimo Rodrigues no primeiro turno e consolidou o domínio lulista no estado. Agora, a equação volta à mesa: sem um palanque nacional competitivo, a oposição baiana teme repetir o mesmo roteiro.

A comparação é inevitável. Em 2022, o União Brasil lançou Soraya Thronicke, Neto apoiou Ciro Gomes — então no PDT, inclusive com a vice-prefeita de Salvador Ana Paula Matos na vice — e viu João Roma se lançar ao Palácio de Ondina, após o rompimento motivado pela ida do aliado ao Ministério da Cidadania de Bolsonaro. O preço político foi alto: Lula fez 72% dos votos na Bahia, Neto perdeu a eleição no segundo turno e Bolsonaro venceu em apenas dois municípios: Luís Eduardo Magalhães e Buerarema.

Agora, o fantasma volta a rondar a oposição.

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Deputado do PL manda recado: 'Quem não coopera com Bolsonaro está contra ele' 

A avaliação interna é de que, para 2026, só um nome nacional capaz de agregar centro, direita e parte do empresariado — Tarcísio de Freitas, segundo todos os líderes ouvidos pela coluna — poderia blindar Neto de um “terremoto presidencial” no interior. A entrada de Flávio Bolsonaro, no entanto, embaralha tudo.

Em entrevista ao Blog do Vila, o deputado estadual Diego Castro (PL) verbalizou o que ninguém do PL tinha dito ainda com tanta veemência: para a sigla, não existe oposição fora da órbita do bolsonarismo. Ele diz que a militância do partido “estará onde Bolsonaro estiver” e que “quem não coopera com ele está contra ele. O tanto faz custou caro em 2022 e pode custar caro outra vez agora em 2026”. É um recado direto a Neto, que, na visão dos liberais, repetirá “o erro de 2022” se não alinhar com Flávio.

Para Castro, qualquer tentativa de articulação que não contemple as pautas da direita — anistia, liberdade de Bolsonaro, livre mercado e agenda de costumes — será rejeitada pelo eleitor bolsonarista. Ele avalia que o PL só discute aliança se Neto “decidir muito bem o caminho”, sob pena de o partido abandonar a coligação.

Diálogo com Roma está 'muitos passos à frente' de discussão nacional, diz Neto

No contexto da ambição de Flávio, uma declaração do próprio Neto, durante o lançamento do Natal Luz no Centro Histórico quase passou despercebida.

Ao contrário do que prega Castro, segundo o próprio pré-candidato ao governo baiano, a retomada da aliança com Roma em nível local não passa pelo imbróglio causado pela família Bolsonaro no plano nacional.

“O nosso diálogo aqui na Bahia não acontece de cima para baixo. Ele acontece ao contrário, de baixo para cima. Ele acontece aqui na Bahia, em uma aproximação natural que tem acontecido entre eu, João Roma, Roberta Roma e outras lideranças do PL. A gente tem dialogado, tem conversado, tem construído uma agenda conjunta no interior e na capital. E eu entendo que o amadurecimento de uma aliança na Bahia está muitos passos à frente de uma discussão nesse momento de uma questão nacional. Eu acho que pode amadurecer uma aliança nacional mais adiante e acho que o amadurecimento dessa aliança na Bahia contra o PT já está acontecendo”, disse, em entrevista coletiva.

Apesar disso, sobre o Planalto, ele admite que o “ideal é que haja unidade” para enfrentar o presidente Lula.

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Cautela e realismo

Com o cenário nacional de volta à estaca zero, a oposição tradicional tenta esfriar o ambiente. O líder da bancada na Assembleia Legislativa, Tiago Correia (PSDB), adota o discurso do “muito cedo”: lembra que vários partidos testam nomes e que pulverizar candidaturas pode ser estratégia para garantir presença no segundo turno. Ele admite, porém, que se Flávio for o candidato, Neto tende a marchar com o nome do União Brasil, o governador de Goiás Ronaldo Caiado — e não com o PL. Ou seja: a chance de cisão é real.

No União, o líder Júnior Nascimento reconhece que a direita só tem chance de vitória se houver unidade. Ele admite o potencial de Tarcísio como maior agregador, diz que o PL tem o direito de lançar seu nome, mas avalia que Flávio não agrega e que “não existe meio termo”: há os que o idolatram e os que o rejeitam profundamente: “Flávio Bolsonaro tem um perfil um pouco ríspido. Então, quem gosta, gosta. Quem não gosta, odeia”.

Alan Sanches, vice-líder da oposição, vê a candidatura como um “choque”, mas ainda crê que o movimento pode ser apenas pressão dentro do próprio PL. Para ele, o jogo é de paciência: “está cedo”, “ninguém esperava um lançamento tão repentino” e “tudo será decidido pelas pesquisas”: “Se você me perguntasse anteontem, eu diria que era boi de piranha. Hoje eu continuo achando que é para negociar, é para dar um stop, talvez na Michelle, entendeu?”.

Já o deputado Pedro Tavares (União) vai além da disputa nacional e recoloca o foco no chão do estado: diz que há um “sentimento irreversível de mudança” no interior, mais forte que em 2022. Ele sustenta que Neto chega competitivo independentemente do cenário nacional — mas torce pela união da centro-direita.

“Se não tiver uma candidatura única, vamos trabalhar para se encontrar todo mundo no segundo turno. Mas o que eu entendo aqui hoje na Bahia é que a população está cansada. São 20 anos do mesmo partido, que não conseguiu resolver questões como a saúde, a regulação, a violência e a educação. Existe sim uma fadiga de material e quem anda no interior sabe que não tem um município em que a pré-candidatura de Neto não seja forte. Quem roda o interior, quem tem visto as manifestações populares onde ele tem ido, vê que realmente esse sentimento é latente, é crescente", considerou.

Não obstante, a avaliação majoritária dentro do grupo é de que Flávio Bolsonaro é um fator de instabilidade e, no fim das contas, em vez de facilitar a vida de ACM Neto, o lançamento do filho do capitão reformado devolve ao ex-prefeito seu maior dilema: será capaz de unir o centro e a direita sem repetir o isolamento político que o derrotou em 2022? 

A resposta, desta vez, não depende só dele.

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PT vê a direita em guerra — e agradece

Enquanto a oposição se reorganiza, o PT observa de camarote. Em reservado, governistas já comemoram. O clima, segundo aliados de Jerônimo e Lula, é de que a eleição “será mamão com açúcar” se a direita ficar aos cacos.

Mais ponderado, o deputado Robinson Almeida (PT) confirma a leitura: diz que Flávio “desagrega”, “divide a direita” e torna o caminho de Lula e Jerônimo mais confortável. Mas mantém a cautela: “toda eleição é difícil”.

“Certamente, nós vamos ter a direita dividida em algumas candidaturas e o presidente Lula, bem avaliado, vai para a sua reeleição", apostou.

A “chamada” de Neto surtiu efeito — quase 

Após a "chamada" de Neto na bancada de oposição, efetivamente a postura dos deputados mudou na Assembleia. Parlamentares atentos em plenário, discursos contundentes na tribuna e na imprensa, postura combativa e longas obstruções têm marcado a atuação após a reunião. 

Só duas ações do grupo destoaram esta semana: Leandro de Jesus (PL), apesar da cobrança dos colegas, mais uma vez se ausentou da Casa nas votações desta semana, agora com justificativa ao líder, e a indicação de Jordávio Ramos (PSDB) para ser o relator do projeto de reestruturação do Planserv causou estranheza. 

Ninguém entendeu nada com a missão do tucano, pois seria uma "impressão digital" da ala da minoria no projeto, que contou com rejeição por parte dos servidores. “Ele acompanhou todo o processo, fez audiências públicas, ouviu as demandas dos servidores. Nada mais justo. Fui eu mesmo que o indiquei”, admitiu o líder Tiago Correia (PSDB) ao Blog do Vila

Nos bastidores, quem ficou chateada foi Fabíola Mansur (PSB) que, como médica e atuante na área de saúde, gostaria de ser agraciada com a relatoria.

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Quarteto pepista: 90% no PSB 

A ida do quarteto pepista insatisfeito com a federação do PP com o União Brasil para o PSB está praticamente sacramentada. Os deputados Antônio Henrique Júnior, Eduardo Salles, Hassan e Niltinho não só se manterão na base do governo, como ingressarão em bloco na legenda comandada na Bahia pela deputada federal Lídice da Mata

Um dos parlamentares confessou que o ingresso está "90% encaminhado" e que depende apenas de "detalhes" para ser anunciado no período da janela partidária, entre março e abril do próximo ano. O Blog do Vila, inclusive, flagrou um momento em que os quatro conversavam no cantinho do plenário da Casa após o recebimento de um telefonema. 

Com o movimento, Fabíola, por sua vez, deve mesmo migrar para o Avante. Já a entrada de Mário Negromonte Júnior, que até votou contra a orientação do partido que preside na Bahia na apreciação do PL da Dosimetria, ainda é discutida em Brasília.

Hilton revela voto para TCE

Única dúvida na votação da indicação do deputado federal Otto Alencar Filho (PSD) ao Tribunal de Contas do Estado (TCE), o deputado Hilton Coelho (PSOL) revelou ao Blog do Vila que, desta vez, não vai se opor à recomendação do governador Jerônimo Rodrigues (PT).

Ele disse ter votado contra a ex-primeira-dama Aline Peixoto ao TCM porque havia um bate-chapa contra o deputado estadual Fabrício Falcão (PCdoB), que ele apoiou. "Agora só tem um candidato", justificou.

Após ter o nome aprovado em sabatina na CCJ, Otto Filho será aprovado em plenário com apoio das bancadas de governo, oposição e, com a declaração de Hilton, até da ala independente. O parecer segue agora para votação no plenário da Alba, prevista para a próxima terça-feira (16), também de forma secreta. 

Primeiro suplente do PSD, Charles Fernandes assumirá a vaga em definitivo.

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Jovem geração comunista

Uma cena inusitada pegou os deputados de surpresa na sessão da última terça-feira (9) na Alba. Um garoto, de paletó, terno e gravata estava no plenário como se fosse um integrante da Casa. 

Tratava-se do filho de Fabrício Falcão (PCdoB), Pedro Miguel. Ao blog, o comunista negou ter a intenção de estimular o rebento a ingressar na carreira política: “Fui mostrar a ele a dificuldade que é isso aqui”.

Como diria Lênin, “a jovem geração comunista deve vincular cada passo da sua instrução, educação e formação à participação na luta comum de todos os trabalhadores”.

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