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Oposição em chamas, o xadrez de Neto, o espiral do PSD e o esquecimento de Roma
Oposição em chamas, o xadrez de Neto, o espiral do PSD e o esquecimento de Roma
A confusão na votação do empréstimo de R$ 2 bilhões abriu uma crise explícita na bancada da minoria e expôs rachaduras internas, justo no momento em que o ex-prefeito conquistou peças do campo adversário
Por Evilásio Júnior
21/11/2025 às 06:00

Foto: Sandra Travassos / AL-BA
A bancada de oposição na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) está em chamas. O sentimento de insatisfação com a falta de posicionamentos mais incisivos virou foco de disputa após a "comida de bola" da sessão da última terça-feira (18).
O "vacilo" permitiu a aprovação do requerimento de urgência de um empréstimo de R$ 2 bilhões solicitado pelo governo, apesar da presença de apenas 15 parlamentares da base no plenário.
Ao Blog do Vila, o líder da ala da minoria, Tiago Correia (PSDB), admitiu "distração" no momento da "manobra" do líder governista Rosemberg Pinto (PT). Ele afirmou que estava na área do "cafezinho" em conversa com um representante do Ministério Público. O tucano classificou o episódio como "momento de desatenção", mas reconheceu a "agilidade" da maioria como parte do "jogo parlamentar".
As queixas contra Tiago
Deputados ouvidos pela coluna, no entanto, elencaram uma série de queixas contra o atual comandante do grupo.
"Ele tem um perfil muito conciliador. Nós precisamos de um perfil mais aguerrido. Ele combate com flores", disse um aliado do tucano. "A situação já não era boa e isso foi a gota d'água", relatou outro, em referência à última sessão na Casa. "O desconforto com Tiago é geral. Ele simplesmente não é líder. Isso é fato, infelizmente. Negocia tudo, não obstrui nada e sempre abandona o plenário. Ou seja, responsabilidade zero", reclamou um membro do grupo. "Zagueiro experiente que toma bola nas costas não merece estar no time principal da seleção. Tem que ir para o banco de reservas", protestou outro.
Em mensagem de áudio enviada no grupo dos opositores no WhatssApp, à qual a coluna teve acesso, o deputado Robinho (União) chegou a contestar a conduta do líder e cogitar a possibilidade de um suposto acordo com a bancada de governo.

A "foto da discórdia" e as suspeitas de acordo
Em reservado, parlamentares associam uma foto postada no Instagram – protagonizada por Tiago, Rosemberg, a presidente da Alba, Ivana Bastos (PSD), e o secretário estadual de Relações Institucionais, Adolpho Loyola (PT) – à prova de que o líder fez acordo com a situação.
Na legenda da publicação, o titular da Serin descreveu a reunião como "alinhamentos necessários para que o trabalho pelo nosso Estado siga sendo conduzido com seriedade, responsabilidade e sem entraves". O encontro aconteceu na última segunda-feira (17), véspera da votação.
"Isso foi acordo em troca de emenda, ambulância, trator etc.", acusou um parlamentar.
A possibilidade de negociação foi descartada pelos defensores do atual líder e tratada como "malvadeza" contra ele. "Ele apenas cumpriu o papel institucional de representar a bancada nas tratativas das próximas pautas do ano", assegurou um colega de Correia.
Disputa pela liderança e futuro da bancada
Independentemente das defesas e acusações, o clima é de apreensão na bancada e expectativa de mudança em fevereiro, após o fim do recesso parlamentar.
Os nomes mais cotados internamente para assumir o posto são dos deputados Sandro Régis (União) e Samuel Júnior (Republicanos), além de Alan Sanches (União) e Robinho (União). Apesar de citados, os dois últimos dificilmente aceitariam a missão, pois estarão imersos em suas candidaturas à Câmara Federal em 2026.
Entretanto, conforme os aliados mais próximos do tucano, Tiago só deixa a liderança "se ele quiser".
Curioso é que a crise se exacerbou no mesmo dia em que a bancada ganhou oficialmente o reforço de Cafu Barreto (PSD) e cresceu para 20 representantes.

Foto: Divulgação
Neto e a estratégia do desembarque
Aliados do vice-presidente nacional do União Brasil, ACM Neto, garantem que as idas dos deputados estaduais Nelson Leal (PP) e Cafu Barreto (PSD) para a oposição não foram movimentos isolados.
De acordo com interlocutores ouvidos pela coluna, o ex-prefeito tem "trabalhado muito para criar o clima de desembarque" no governo, como estratégia eleitoral para derrotar o atual governador Jerônimo Rodrigues (PT) na disputa pelo Palácio de Ondina.
Segundo parlamentares, todos os erros da eleição passada foram colocados na mesa para que não sejam repetidos em 2026. Uma das metas é promover palanques com aliados fortes em todos os 417 municípios baianos, a fim de potencializar a candidatura.
A expectativa é de que novos deputados federais e estaduais, além de prefeitos atualmente no campo petista, sejam anunciados como reforços da oposição nos próximos dias. Os nomes são guardados a sete chaves, mas prometem "abalar" o grupo governista.
Uma das formas de atração é convencer os postulantes de que a eleição será mais difícil no "lado de lá", que sofreria dificuldades na montagem de nominatas, em função do grande número de partidos para abrigar muitos candidatos competitivos.
Como exemplo, foi citado o fato de que só entre União Brasil e PP há pelo menos sete vagas disponíveis para a Assembleia Legislativa. Manuel Rocha, Alan Sanches e Robinho irão concorrer a uma vaga em Brasília, e quatro estaduais progressistas – Antônio Henrique Júnior, Eduardo Salles, Hassan e Niltinho – estão de saída para o PSB.
"Surpreendentemente, hoje União e PP são opções muito atraentes", avaliou um aliado de Neto.
A meta da federação é conquistar 12 cadeiras na Alba.
PSD: surpresa, desgaste e sobrevivência
Se a ida de Cafu Barreto para a oposição foi recebida com surpresa pela presidente da Alba, Ivana Bastos, e indignação pelo comandante estadual do PSD, o senador Otto Alencar, internamente a mudança foi tratada como "questão de sobrevivência".
Um integrante da cúpula social-democrata afirmou ao blog que o parlamentar "já estava muito enfraquecido" e não teria boas condições para se reeleger no campo do governo, mesmo com a força que teve outrora em sua região.
"O PSD de Irecê está quase todo com Ricardo Rodrigues. Ricardo tomou quase tudo de Cafu e ele teve que ir para a oposição para sobreviver. Na própria cidade dele, brigou e perdeu a eleição", disse o correligionário, ao se referir à última disputa em Ibititá. O pleito foi vencido por Dr. Afonso (MDB), com Nilvinha Barreto (Avante) em segundo e Celson (PSD), seu aliado, apenas no terceiro lugar. "Foi um livramento para Otto", considerou o peessedista.
Já o deputado estadual Angelo Coronel Filho garantiu que não houve dedo do seu pai – e senador cortejado pela oposição – na movimentação. "Para o senador também foi uma surpresa. Cafu é muito aliado nosso, mas ninguém sabia", declarou.
O destino partidário de Cafu ainda é uma incógnita, mas especula-se que ele possa ingressar na federação União Progressista.

Foto: Sandra Travassos / ALBA
Ludmilla de malas prontas para o PSD
Com a perda de Cafu, o PSD já encaminhou a filiação de outra parlamentar para não perder a cadeira no Legislativo baiano. Trata-se da deputada estadual Ludmilla Fiscina, que está de "malas prontas" para trocar o PV pelo partido liderado por Otto.
Os verdes já foram comunicados do pedido de saída, que deve se concretizar a partir de março, no período da chamada "janela partidária", que se encerra em 4 de abril.
Ainda não se sabe se Vitor Bonfim, que tentará uma vaga na Câmara Federal, ficará na sigla ambientalista. Já a permanência de Marquinho Viana e Roberto Carlos é avaliada, embora o PV assegure que não servirá mais uma vez como "barriga de aluguel" para abrigar governistas sem espaços em suas legendas ou mesmo adesistas.
Roma esquecido
O aniversário do presidente estadual do PL, João Roma, que completou 53 anos na última segunda-feira (17), não foi lembrado nem pelo prefeito Bruno Reis nem por ACM Neto, principal pré-candidato ao governo pela oposição.
Pelo menos, não houve qualquer menção à data nas redes sociais da dupla do União Brasil, de acordo com integrantes do Partido Liberal.
Roma recompôs a aliança com Neto este ano, após ter rompido em 2021, quando aceitou o convite para ser ministro da Cidadania no governo de Jair Bolsonaro.
Após ficarem em campos distintos na eleição de 2022, o liberal é cotado para compor a chapa da oposição como candidato a senador no próximo pleito.

